sexta-feira, 11 de abril de 2008

Resgate...

Imagem 1

O manto escuro da noite estava bem alegorizado pelo brilho dos cristais celestes do quais denominamos de estelas. Os olhos de Erick fitavam o espaço profundo e infinito que havia acima de sua cabeça, ele nunca havia parado para observar e analisar cada pedacinho do espaço celeste como aquele dia.

As reflexões de Erick são interrompidas pelo toque de Mário no ombro dele.

--Você tem certeza que quer fazer isso?- Mário olhava para o amigo, ele não queria parecer que estava forçando Erick a fazer aquilo e causar um peso tremendo em sua consciência.

--Sim. Se precisamos fazer isso para que Camilla possa se livrar, eu quero fazer!

Mário suspira. E o silêncio novamente impera antes que Mário começasse a ditar novamente a estratégia criada para que pudessem ter sucesso no resgate.

--Bom... Vamos revisar novamente a estratégia. - Mário pega um papel um tanto amassado, talvez pelo modo que foi colocado no bolso. No papel estavam grafados desenhos de detalhismos simples que representavam mais ou menos as táticas e observações importantes do resgate de Camilla(ver imagem 1)- Aqui.-Ele aponta para o papel e agora retira de uma mochila preta com detalhes em vermelho uma pequena lanterna que ajudaria a visualizar o papel- Aqui, como pode ver fiz uma planta simbólica do depósito. A partir de pesquisas na internet obtive essas fotos desse depósito - Mário retira de debaixo do papel três fotos impressas em um papel A4 em escala preto e branco - Pela altura do galpão dá pra se perceber que ele tem o térreo e o 1º andar. Como pode ver temos duas janelas do lado esquerdo localizadas à 3,5 m do chão, o que fortalece minha teoria que o 1º andar tem as duas salas típicas como o galpão do jogo Max Payne 2. Pelo tamanho da janela da 2ª sala dá pra se notar que lá tem um banheiro. Lógicamente é nessa sala que Camilla está, pois aí não teriam problemas com desculpas como "Quero ir no Banheiro".

Erick mesmo sabendo da capacidade intelectual do seu amigo se surpreende com o poder de dedução dele.

- Julgando pela lógica terão mais de um guarda no portão principal onde são descarregadas os produtos do caminhão para o depósito. O portão é onde eles guardam o posssível automóvel do resgate pois como vemos não há nenhum outro lugar fechado por onde pudessem guardar o veículo. - Mário dá uma pausa - Continuando o raciocínio, está fora de questão a entrada pela porta da frente do galpão. Nas fotos vi que há mais duas portas atrás do galpão, certamente é por onde estão com mais medo de serem atacados. No caso teremos que buscar o lugar por onde eles nunca imaginariam que entraríamos, ou seja entrar pela porta da frente.

-Uhum -Erick concorda.

- Mas temos o 2º problema como entrar sem que estranhassem qualquer coisa? Simples.- Mário olha para o Toyota Corolla 2005/06 prateado de seu pai no qual se locomoveu até o lugar onde ele atualmente estava- Eu vou entrar normalmente como se não estivesse acontecido nada. Eles nem descofiarão.

Erick nada afirma apesar de seu medo que aquilo tudo desse errado e eles acabassem mortos na mão dos sequestradores.

Mário se dirige para o carro, sua cabeça começa a imaginar em mil e uma possibilidade do plano falhar, mas aquelas possobilidades não o fariam desistir. "Clack", esse é o ruído que se ouve ao abrir a porta do Toyota Corolla. Mário entra e se senta no banco do motorista. Ele coloca a mão na pequena Bíblia de bolso contendo apenas o Novo Testamento e a guarda no bolso frontal da jaqueta escura que ele usava. Ele gira a chave e o suave barulho da ignição invade o ar. Acelarador, Embreagem, 1ª Marcha. Ele faz exatamente como aprendera com seu pai e o carro entra em movimento. Quando enfim chega à frente do portão de entrada do depóstito, Mário aciona o ruidoso barulho da buzina. Uma vez, Duas vezes. O portão lentamente começa a se levantar e uma luz de lanterna incendeia a penumbra da noite. Mário conduz o veículo modelo sedan lentamente para dentro do depósito.

Nesse mesmo momento Erick se dirige para os fundos. Enquantos seus olhos fixavam no veículo sendo "engolido" pelo depósito sua mente oscilava entre a coragem que queria demonstrar e as conseqüêcias que aquele ato poderia causar. Finalmente seu destino é atingido e lá ele espera encostado na parede fria do depósito a hora de "entrar em ação".

Mário finalmente coloca o veículo em inércia e vagarosamente desce do veículo, em sua mão direita tinha a maleta negra de onde seu pai costumava carregar grandes quantias de dinheiro.

--Quem é você?-Disse um dos dois homens que vigiavam a entrada da frente quando não reconheceu a face de Mário.

--Eu fiz o que vocês pediram...

--QUEM É VOCÊ? QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA INVADIR NOSSO ESCONDERIJO DESSE JEITO?- O grito escandaloso do homem cessa assim que ele sente a mão de seu companheiro tocar-lhe o ombro.

Esse homem de físico menos definido que interrompeu os gritos do parceiro diz suavemente:
--Calma..

--Eu trouxe o dinheiro do resgate. O Dinheiro qu.. que vocês pediram, p... por favor não me mate. - Mário coloca à frente a maleta como se entregasse ela para os homens que estavam à sua frente. naquele momento ele interpretava alguém assustado com os gritos do suposto sequestrador, mas ele não precisava nem de muito esforço, ele estava realmente muito assustado com aquilo tudo.

O homem que agora à pouco soltara gritos pega a maleta. Seu semblante era de confusão.

--Resgate? Quem foi o idiota que pediu resgate?- O homem olha em volta. Aquele que apaziguara seu ataque de nervos com um simples toque em seu ombro balançava negativamente a cabeça- Chamem aqueles inúteis do Fracisco e do Júnior aqui agora.

O homem de físico magro e aparência sombria que parecia ser o mais calmo dos dois ali se dirige para os fundos do depósito.

"Esse cara que gritou deve ser o líder.." Pensou Mário.

Minutos depois o homem que fora chamar os outros dois denominados de Júnior e Francisco retorna acompanhado dos a quem fora trazer.

"Incrível. Esse garoto é mesmo muito esperto. Kraviam estava certo." Sem que expressasse nenhuma outra expressão em seu rosto o homem com face sombria pensava aquilo. Se alguém reparasse na face daquele homem perceberia que os olhos dele não eram normais. Não tinham pupila.

Enquanto isso Erick entrava pela portas dos fundos.

"Quando os outros desocuparem seus postos você entre, e rápido. Vá resgatar Camilla que está no andar de cima. Foi isso que o Mário Falou. Calma Erick, vai dar tudo certo"

Ele começa a subir vagarosamente, tomando o maior cuidado possível com ruídos indesejáveis. A ofegação começa novamente e a adrenalina começa a tomar conta do garoto.

"A não. Denovo não". Erick começa a se lembar das dores que sentira à tarde. Aquela hora que começara a perder o controle do corpo. Felizmente ele voltou a si rápido, mas se começasse aquilo tudo denovo o que poderia ser dele?

As dores novamente começam. São inevitáveis os gemidos, mas Erick faz o possível para não fazê-los altos o suficiente para estragar o plano de Mário. Ele desaba. Não aguentava mais caminhar. Aquela incômoda sensação começava denovo.

--Quem pediu resgate?

O silêncio impera. Nenhum dos três homens se pronuncia por algum tempo até que o sombrio homem diz algo.

--Fui eu. Eu pedi o resgate.

Os outros 3 supostos seqüestradores se entreolham mas são interrompidos de dizer qualquer coisa por um ruído peculiar que invadira o ar naquele momento.

"Droga Polícia! Isso vai estragar meu plano. Droga! Droga!" Mário sabia que aquele barulho de sirenes não era bom.

--Merda Polícia. É uma emboscada! Você vai morrer garoto. VOCÊ VAI MORRER!!

O que Mário julgava o líder do grupo sacava rapidamente um revólver de modelo Schimt Inglês ou, como é mais conhecido, calibre .38.

Mário diz:

--Calma. Tá dando certo - Mário dissimula um sorriso. Os homens em dúvida apenas observam- Eu consegui. Fabrício está vindo. Você pode pegá-lo agora. Finalmente esse cara vai parar de fazer a cabeça de meus pais e fazer com que eles não me deixem-me consumir cocaína.

--É um truque. VOCÊ NÃO VAI ENGANAR NINGUÉM AQUI SEU FILHO DA P***!

--Calma. Pensa bem. Como eu saberia que vocês querem o Fabrício e não um resgate?

Todos se calam.

A polícia invade o local. O tumulto começa a ser armado mas Mário não presta muita atenção no que iria acontecer, rapidamente ele corre para poder resgatar sua irmã. Quando enfim estava próximo ao quarto onde Camilla estava ele é interrompido por uma voz:

--Você está aí.

--Fabrício? É você? Quem bem que está bem! Graças a Deus!

Mas Fabrício não estava normal. Seus olhos estavam assustadoramente sem a pupila.

--Que pena que não posso dizer o mesmo de você.

Fabrício dispara três vezes de uma pistola contra Mário e não erra nenhum dos três tiros. Mário cai imediatamente no chão e começa a agonizar. Suas vistas começam a se escurecer até que tudo ficava escuro.

Escuro...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Camilla..


O silêncio imperava no quarto da casa de Mário. Lá estava a figura triste dos dois grandes amigos que desde a 5ª série compunham uma amizade de estabilidade invejável. O longo suspiro vindo dos lábios de Mário quebra aquele silêncio doloroso que havia entre os dois.

--Então Mário... Fica assim não cara. Ela vai voltar confie em mim. Tudo vai dar certo. A polícia já está avisada e tudo vai correr bem. Vai por mim, mano.

--Erick.. –novamente a boca de Mário emana um suspiro agora um pouco mais curto que o anterior- Sabe, espero que você esteja certo. Apesar de nossas diferenças eu amo minha irmã e nunca desejaria nenhum mal a ela.

Aquelas palavras inundaram a mente de Erick. Ele sabia que Mário queria acima de tudo o bem de sua irmã, como será que ele ficaria se soubesse de sua vontade de conseguir conquistar Camilla? Ainda mais conhecendo o aspecto de mulherengo dele tão bem assim.

--Não se preocupa, cara. Você vai ver, daqui uns dias ela vai ta aqui pegando novamente no teu pé por causa da Suzane e te pedindo pra ajudar ela com as tarefas de casa.

--Sabe o que mais me preocupa, Erick? É que hoje cedo eu encontrei uma carteira jogada no chão do quarto de Camilla.

--Mas isso é bom. Agora poderão pegar os cara mais rápido..

--Não, Não é isso. Nela tinha um cartão com o endereço e escrito “galpão abandonado” embaixo dele. Até parece que eles querem que a gente encontre o galpão.

--Larga de nóia mano. Claro que não, concerteza devem ser uns manés e deixaram essa carteira cair. Ah.. e já avisou a Suzane?

--Não Não. Tá maluco? Isso só ia deixar ela preocupada e você sabe como a Suzane é, né?-uma pequena pausa e novamente ele retoma a fala- Sabe... Você está sendo um amigo e tanto sabia?

Erick apenas sorri. Os dois se abraçam como grandes amigos fazem em horas de dor como aquela. O quarto novamente mergulha em silêncio.

Aquele dia foi um tanto cheio na casa dos Gôuveias. Investigadores, Militares, Amigos e Curiosos invadiram a casa da família de Mário e Camilla naquele dia, o que só aumentava a dor da família. As imagens dos momentos que tivera com a irmã iam gradativamente se fazendo mais presentes, bons e maus momentos que fizeram daqueles dois algo mais além de irmãos, fizeram dos dois grandes companheiros. Aquelas imagens cativaram um sentimento incômodo, um sentimento que julgava que talvez nunca mais pudesse ver Camilla, sentimento que não deixariam aquele garoto esperando por uma resposta positiva vinda das autoridades que já estavam no caso.

--Erick, Erick.. Preciso que venha aqui agora. Tem uma coisa que quero falar para você.

Tu Tu Tu.. O ruído de ligação terminada misturava com os ruídos dos suspiros sucessivos emanados por Mário. Ele tomara uma decisão, talvez não tão sábia, mas concerteza amenizaria o sofrimento que estava passando. Agora era só esperar que Erick chegasse à casa e ele iria fazer algo pela irmã.

Cerca de 20 minutos depois a campainha anuncia a chegada de Erick. O garoto entra e os dois amigos se acomodam na sala de estar. Assim Mário começa a relatar o que tinha em mente.

A velocidade de pronúncia das palavras mostrava que Mário estava nervoso e as coisas que ele dizia iam impressionando Erick a cada segundo que se passava. Não restavam dúvidas que aquilo que Mário havia proposto era muito perigoso.

--Você tá maluco cara?- Apenas pela voz dava para se detectar o nervosismo que Erick estava após ouvir a proposta de Mário.- Você ta pensando em se suicidar, né? Só pode. A gente não pode ir lá e resgatar a Camilla não, cara, você só pode estar brincando..

--Não Não estou brincando... É o seguinte. Eu lhe chamei e te contei que eu quero resgatar a Camilla pelo seguinte, eu quero que você me ajude. Agora se você acha que não está apto a fazer isto por qualquer que for o motivo tudo bem, eu faço isso sozinho.

--Definitivamente não, cara. Eu não vou atrás de bandido e arriscar minha vida não. A polícia já está fazendo isso... Melhor, estaria se você tivesse entregado esse maldito papel com o endereço para o investigador.

--olha aqui. Eu não acabei de explicar que esse papel é a única garantia de que não é nenhuma armadilha? Escuta bem. A carteira aonde estava o papel estava aberta e virada de cabeça para baixo quando encontrei, correto? Mas tem uma coisa errada aí. A carteira tem um velcro que tranca a carteira assim que ela é fechada, ou seja, ela foi colocada naquele sentido. E outra coisa, já se passaram mais de 12 horas e nada de pedido de resgate. Isso concerteza é uma armadilha para alguém da polícia. Preste atenção. Fabrício mora bem aqui na rua de casa né? E ele é um oficial da justiça. Segundo boatos ele teve uma briga com uns caras aí à umas duas semanas atrás, então está mais que claro que eles querem fazer algo com o Fabrício, já que é ele o policial que cuida dessa parte de seqüestro.

Um pausa longa é dada no diálogo

--E daí, Mario? Não importa o que querem ou não fazer com esse tal de Fabrício. Você vai se arriscar por um cara que não é nem seu parente? Presta atenção, cara. Você não é Super Herói não.

Mário pega um livro de capa preta e com letras douradas em cima da mesinha de centro frente à ele. Aquele era considerado um manual de instruções para ele, já que sua formação evangélica era muito forte. Aquele livro era uma Bíblia.

--Se você puder fazer o bem e não fizer isso será um pecado. – ele olhava para a Bíblia enquanto pronunciava tais palavras.

Erick suspira.

--Tá Bom... Eu sei que você é inteligente o bastante para não fazer isso. Eu ao vou ficar aqui ouvindo você dizer loucuras não. Tô indo Mário.

Erick se levanta e se dirige para a saída. Apesar das palavras ditas agora à pouco ele sabia que Mário não tiraria aquela idéia maluca da cabeça e o pior, nunca se perdoaria se acontecesse algo com seu melhor amigo.

--Mário. Não posso fazer você desistir da idéia. Mas eu também não posso deixá-lo fazer isso sozinho. Eu vou com você.

As horas após aquele diálogo passaram em considerável vagareza para aqueles dois jovens amigos. Erick havia se dirigido novamente para sua casa enquanto pensava na aventura que teria logo mais à noite. Ele se arrependeu de ter dito aquilo, mas já estava feito. O êxtase tomava conta do corpo dele só de imaginar o que poderia acontecer naquela louca aventura, mesmo considerando Mário um gênio, ele tinha um pressentimento de que aquilo não iria dar certo.

--Arhh... O que está acontecendo? O que é isso passando em minha mente?

Erick já estava em casa. Jogado no sofá se debatendo de uma dor que iniciara logo depois que ele começou a pensar acerca da aventura de resgate que havia marcado para logo mais à noite. Ele não sabia o que estava acontecendo com sua mente que começara a transmitir imagens de uma vida que ele não viveu num mundo que ele nem mesmo conhecia. O que seria aquela sensação de perca de controle que ele estava sentindo, parecia que seu corpo estava sendo transferido para outro dono, ele não mais coordenava seus movimentos.